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Mancha de fogo encobre mais de 500 km de extensão da Amazônia, apontam imagens de satĂ©lite

Dados do Inpe tambĂ©m mostram que, desde janeiro, a Amazônia registrou mais de 61 mil focos de incĂȘndio, enquanto o Pantanal contabiliza quase 9 mil focos.

Por Marcelo Aquino em 04/09/2024 às 07:45:44

Uma mancha de fogo com mais 500 quilômetros de extensão e mais de 400 quilômetros de largura tem avançado sobre a Amazônia, conforme captado pelo satĂ©lite europeu Copernicus. Na quinta-feira (29), o fenômeno cobria os estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, alĂ©m de ĂĄreas do Peru, BolĂ­via e parte do Paraguai.

Segundo dados do programada BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia registrou mais de 61 mil focos de queimadas de 1Âș janeiro atĂ© sexta (30), enquanto o Pantanal contabilizou quase 9 mil focos. Os dois biomas estão no território que estĂĄ sendo afetado pela mancha de fogo.

Abaixo, veja a situação dos estados onde a mancha de fogo foi registrada:

  1. Mato Grosso lidera em nĂșmero de focos de incĂȘndio no paĂ­s, totalizando 24.880 de janeiro a agosto. Nesta sexta-feira (30), o estado tambĂ©m declarou situação de emergĂȘncia por 180 dias, em resposta ao aumento significativo dos registros de focos de calor e incĂȘndios florestais, com destaque para a região do Pantanal.
  2. No Amazonas, o total de focos de incĂȘndio chegou a 14.483 de janeiro a agosto. O estado enfrenta uma crise ambiental grave, causada pela combinação de seca nos rios e queimadasTodos os 62 municĂ­pios do Amazonas foram declarados em estado de emergĂȘncia na quarta-feira (28).
  3. No Mato Grosso do Sul, o fogo tem devastado o Pantanal hĂĄ mais de trĂȘs meses, com um total de 9.938 focos de incĂȘndio registrados. O estado foi um dos primeiros a declarar situação de emergĂȘncia nas cidades afetadas pelos incĂȘndios no Pantanal, ainda em 24 de julho.
  4. Rondônia tambĂ©m bateu recordes de queimadas, com o maior nĂșmero de focos registrados em em um mĂȘs de agosto dos Ășltimos cinco anos: 6.223. Nesta semana, o governo estadual implementou uma proibição do uso de fogo em todo o território por 90 dias. AlĂ©m disso, o governo federal reconheceu a situação de emergĂȘncia em 18 municĂ­pios de Rondônia devido à estiagem.
  5. O Acre registrou 2.654 focos de incĂȘndio de janeiro a agosto. O estado declarou situação de emergĂȘncia ambiental jĂĄ em junho deste ano devido à diminuição das chuvas e ao aumento do risco de incĂȘndios florestais

O satĂ©lite Corpenicus aponta que a mancha de fogo tem se expandido com o passar dos dias. Na quarta-feira (28), o fogo se concentrava no Amazonas, em Rondônia e no Mato Grosso.

No entanto, o cenĂĄrio mudou e o mapa mostra que Acre, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia estão formando, agora, um cinturão de fogo. O satĂ©lite tambĂ©m mostrou um crescimento de queimadas na região de Novo Progresso, no ParĂĄ.

Leonardo Vergasta, meteorologista do Laboratório do Clima (Labclim) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), explicou que a mancha indica uma alta concentração de dióxido de carbono na atmosfera, resultado das queimadas que produzem essa fumaça.

"A formação de queimadas estĂĄ diretamente relacionada a essa concentração de dióxido de carbono, que Ă© um gĂĄs que estĂĄ presente na atmosfera terrestre. A circulação do vento estĂĄ normal, mas as queimadas persistem na Região Sul do Amazonas, no Acre e em Rondônia", afirmou.

Vergasta também destacou que a falta de chuva intensifica o problema.

"Regiões como Mato Grosso e Rondônia estão hĂĄ mais de 90 dias sem chuva, enquanto o Sul do Amazonas e o Acre enfrentam uma seca de 7 a 21 dias. A ausĂȘncia de chuva e as altas temperaturas durante a estação seca tornam a vegetação extremamente vulnerĂĄvel às queimadas provocadas pela ação humana", explicou.

Fumaça pode voltar ao sul do paĂ­s, diz especialista

A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, afirmou que os rios voadores ïżœ- corredores de massas de ar que transportam a umidade da Amazônia para outras partes do paĂ­s ïżœ- podem contribuir para a dispersão da fuligem das queimadas. Na semana passada, uma nuvem de fumaça chegou atĂ© o sul do Brasil, afetando 10 estados.

"A Amazônia desempenha um papel crucial para o restante do paĂ­s por meio dos rios voadores. Quando a região estĂĄ muito seca, isso impacta esses rios voadores. AlĂ©m de transportar a umidade, as massas de ar tambĂ©m carregam a fuligem, as partĂ­culas de aerossóis e outros materiais liberados pelas queimadas", explicou.

A pesquisadora tambĂ©m destacou os riscos que a Amazônia enfrenta se continuar experimentando ciclos mais frequentes de queimadas.

"A floresta amazônica não Ă© adaptada ao fogo. Quando ocorrem incĂȘndios, muitas ĂĄrvores morrem, iniciando um processo de degradação. Se essa situação persistir, a degradação só tende a piorar, pois a floresta necessita de tempo para se recuperar", alertou.

"E com isso, o impacto Ă© a mortalidade das ĂĄrvores, tem impacto, ainda, no estoque de carbono, na biodiversidade em si e se esse fogo continuar recorrente, a floresta vai estar mais inflamĂĄvel, e vai haver um empobrecimento da vegetação, e somente as espĂ©cies adaptadas a essas condições vão conseguir se estabelecer nesse lugar", finalizou.

Fonte: g1

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